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Arnaldo Jabor

Arnaldo Jabor

Lula é um fenômeno religioso
 


Arnaldo Jabor 
O Estado de S.Paulo


Lula não é um político - é um fenômeno religioso. De fé. Como as
igrejas que caem, matam os fiéis e os que sobram continuam
acreditando. Com um povo de analfabetos manipuláveis, Lula está
criando uma igreja para o PT dirigir, emparedando instituições
democráticas e poderes moderadores.

Os fatos são desmontados, os escândalos desidratados para caber nos
interesses políticos da igreja lulista e seus coroinhas. Lula nos
roubou o assunto. Vejam os jornais; todos os assuntos são dele, tudo
converge para a verdade oficial do poder. Lula muda os fatos em
ficção. Só nos resta a humilhante esperança de que a democracia
prevaleça.

Depois do derretimento do PSDB, o destino do País vai ser a maçaroca
informe do PMDB agarrada aos soviéticos do PT, nossa direita
contemporânea. Os comentaristas ficam desorientados diante do nada que
os petistas criaram com o apoio do povo analfabeto. Os conceitos
críticos, como "razão, democracia, respeito à lei, ética", ficaram
ridículos, insuficientes raciocínios diante do cinismo impune.

Como analisar com a Razão essa insânia oficial? Como analisar o caso
Erenice, por exemplo, com todas as provas na cara, com o Lula e seus
áulicos dizendo que são mentiras inventadas pela mídia? Temos de criar
novos instrumentos críticos para entender esta farsa. Novos termos.
Estamos vendo o início de um "chavismo light", cordial, para que a
"massa atrasada" seja comandada pela "massa adiantada" (Dilma et PT).
Os termos têm de ser mudados. Não há mais "propina"; agora o nome é
"taxa de sucesso". A roubalheira se autonomeia "revolucionária" -
assalto à coisa pública em nome do povo. O que se chamava "vítima"
agora se chama "réu". Os escândalos agora são de governos inteiros
roubando em cascata, como em Brasília, Rondônia e Amapá - são
"girândolas de crimes". Os criminosos são culpados, mas sabem tramar a
inocência. O "não" agora quer dizer "sim".

Antigamente, se mentia com bons álibis; hoje, as tramoias e as
patranhas são deslavadas; não há mais respeito nem pela mentira. Está
em andamento uma "revolução dentro da corrupção", invadindo o Estado
em nossa cara, com o fito de nos acostumar ao horror. Gramsci foi
transformado em chefe de quadrilha.

Nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos
tanto de cabeça para baixo. Já sabemos que a corrupção no País não é
um "desvio" da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo,
entranhada nos códigos e nas almas. Nosso único consolo: estamos
aprendemos muito sobre a dura verdade nacional neste rio sem foz, onde
as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: ganhamos mais
cultura política com a visão da figura da Erenice, a burocrata
felliniana, a "mãe coragem" com seus filhos lobistas, com o corpinho
barbudo do Tuminha (lembram?), com o "make-over" da clone Dilma (que
ama a ex-Erenice, seu braço direito há 15 anos), com o silêncio
eufórico dos Sarneys, do Renan, do Jucá... Que delícia, que doutorado
sobre nós mesmos!

Ao menos, estamos mais alertas sobre a técnica do desgoverno corrupto
que faz pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas,
hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, tudo proclamado como
plano de aceleração do crescimento popular.

Nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao
meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades
imundas, mas fecundas como um adubo sagrado, belas como nossas matas,
cachoeiras e flores.

Os canalhas são mais didáticos que os honestos. Temos assistido a um
show de verdades mentirosas no chorrilho de negaças, de cínicos
sorrisos e lágrimas de crocodilo. Como é educativo vermos as falsas
ostentações de pureza para encobrir a impudicícia, as mãos grandes nas
cumbucas e os sombrios desejos das almas de rapina. Que emocionante
este sarapatel entre o público e o privado: os súbitos aumentos de
patrimônio, filhinhos ladrões, ditadura dos suplentes, cheques podres,
piscinas em forma de vaginas, despachos de galinhas mortas na
encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as flatulências fétidas
no Senado, as negaças diante da evidência de crime, os gemidos
proclamando "honradez" e "patriotismo".

Talvez esta vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400
anos. Através deste escracho, pode ser que entendamos a beleza do que
poderíamos ser!

Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que enquanto houver
20 mil cargos de confiança no País, haverá canalhas, enquanto houver
estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a
fundo perdido, haverá canalhas. Com esse código penal, nunca haverá
progresso.

Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas,
hospitais, estradas, sem saneamento, com o Lula brilhando na TV,
xingando a mídia e com todos os mensaleiros, sanguessugas e aloprados
felizes em seus empregos e dentro do ex-partido dos trabalhadores. E é
espantoso que este óbvio fenômeno político, caudilhista, subperonista,
patrimonialista, aí, na cara da gente, seja ignorado por quase toda a
intelligentsia do País, que antes vivia escrevendo manifestos
abstratos e agora se cala diante deste perigo concreto que nos ronda.
No Brasil, a palavra "esquerda" ainda é o ópio dos intelectuais.

A única oposição que teremos é o da imprensa livre, que será o inimigo
principal dos soviéticos ascendentes. O Brasil está evoluindo em
marcha à ré! Só nos resta a praga: malditos sejais, ó mentirosos e
embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas
línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se
enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.

Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas e jornais são o inimigo
deles.

Por isso, "si vis pacem, para bellum", colegas jornalistas. Se
quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra.
 
 
 


Ou viramos este jogo AGORA ou vamos nos arrepender!